Recebemos a primeira visita da equipe Hanami: Joyce e Manu… figuras queridas, delicadas, lindas, positivas… vieram e trouxeram junto aquela forcinha que ainda me faltava para encarar que minha filha estava para nascer… e que eu precisava me concentrar nisso!
As meninas me examinaram, viram que ela estava bem encaixada (aliás essa menina já estava encaixada há mais de um mês… linda!) e que era relativamente pequena, uma picurruchinha!
Joyce me mandou… isso mesmo, me mandou caminhar todos os dias… ah! Isso foi tão bom… tãããão bom… os dias de outono lindos, claros, as manhãs calmas… eu ia lá caminhar, me cuidar, respirar!
Uma semana depois a segunda visita… dia 01 de abril!
Antes disso, na manhã deste dia, vejo a Joyce passando de carro vindo do Sambaqui… me deu aquele sorrisão e um aceno muito empolgado… pensei… “Ahhh! A Olívia deve estar para nascer!” e era mesmo… a nossa amiga de grupo de gestantes, a Camila, grávida da Olívia há 41 semanas estava iniciando o TP!
A visita da Vânia veio para tirar os últimos nós que ainda “amarravam” a Estela dentro de mim! Conversamos muito durante essa visita, e o ponto alto foi quando ela falou da mudança da dinâmica familiar, do segundo filho, da relação do casal… aí percebi no meu coração que estava me sentindo em dívida com o Pedro, que estava apreensiva com o quanto o nascimento da Estela iria me afastar dele! Depois da visita da Vânia sentei com ele para assistir um filme e ficamos comendo amendoim e tomando iogurte (tudo a ver!rs), rindo e palpitando sobre o filme… tirei um peso, me conectei com ele, ficou tudo mais leve!
Mas antes da Vânia ir embora me perguntou se queria que tocasse para ver a dilatação… fiquei com receio, mas quis! Ela tocou: “colo grosso, posterior, 1,5cm de dilatação” (resumindo: nada!).
Ela disse que achava que ainda ia demorar… do fundo do meu coração NÃO ACREDITEI pois há muito tempo eu sabia que ela viria “entre o dia 02 e 04 de abril” (falava isso sempre!).
Enfim, naquela madrugada comecei a sentir algumas cólicas…
RELATO DO PARTO DA ESTELA
Dia 02 de abril de 2011, 02 da manhã, uma cólica… 15 minutos depois outra, e assim foi até as 6hrs da manhã… resolvi levantar!
As contrações foram vindo, vindo… ficando mais próximas, mas ainda assim irregulares! Fiz café, Fernando acordou “é hoje?” “ é!” ; )… logo depois Pedro acordou e contamos pra ele a novidade… ele ficou muito contente e me deu um abração!
Então ficamos aqui em casa… ouvindo música suave, tomando café da manhã… Pedro contando causos! Eu fui preparando o “ninho” arrumando o quarto, banheiro… a cada contração eu relaxava bem o corpo, mexia bastante o quadril, respirava… conversava com a Estela.
Pedro queria dar uma volta na praia e fomos todos juntos! Caminhando devagar, fomos até as pedras que ele gosta de escalar… lá as contrações começaram a ficar meio fortinhas e como começamos a encontrar vários conhecidos pelo caminho, achei melhor voltar pra casa… chegando em casa veio uma meio “punk” e aí vi que tinha que ficar mais concentrada.
Quando cheguei em casa estava tocando um CD do Tomaz Lima uma música bem boa de dançar, então fiquei ali, relaxando bem o quadril enquanto as contrações vinham, foi uma delícia e foi nossa última dança antes do parto!
Já eram umas 9:30hrs e pedi pro Fernando ligar pra Manu ou pra Joyce. Ele ligou e a Manu falou que estava a caminho. Ligou também para minha mãe para que ela buscasse o Pedro, já que ele manifestou a vontade de estar passeando enquanto a irmãzinha estava para nascer (“mas quando ela nascer vc me faz uma surpresa ta mãe?!),
Fui para o chuveiro, fiquei um tempão… aliviou bastante e eu fiquei ali relaxando e cantando a música da Estela (“Corra e olha o céu”! – Cartola) afinal ouvimos muito esta música juntas! Rs
Num dado momento me bateu o medo da água da caixa acabar (coisa não rara aqui em Sto Antonio) e ficarmos sem água para encher a banheira mais tarde.
Saí do chuveiro e fiquei sentada na bola apoiada numa montanha de travesseiros em cima da minha cama. Neste momento a Jaque (amiga) chegou para me dar um abraço (ela vinha trazer umas flores para eu plantar no meu jardim! Nem sabia do parto…). Conversamos um pouco e veio uma contração, ela viu que o bicho estava pegando e foi-se me deixando boas energias pro parto.
Logo depois chegou a Manu, muito querida, “estava mas não estava”, examinou (5 cm, ufa!), me sugeriu voltar ao chuveiro e me deixou sozinha novamente, foi perfeita!
Fiquei no chuveiro e dali não saí mais… não vi ninguém chegar, ninguém sair… estava totalmente na partolândia… de repente tenho um flash: Roxana sentada na minha frente falando para olhar nos seus olhos, não consigo abrir os olhos, só ouço a voz no fundo… quando finalmente consigo vejo Halana, Rox, Iara e Fernando sentados no chão do banheiro todos me olhando com expressões meio de espanto, meio sorrindo, Iara e Fernando super calmos… Rox e Halana tentando me passar instruções que eu ignorava totalmente pois a única coisa que eu queria fazer era gritar, um grito profundo… era isso que me aliviava era isso que eu queria, era isso que minha bebê pedia pra nascer!
Uma das coisas que eu mais prestava atenção era para relaxar o períneo em cada contração e isso me ajudou bastante…
E assim fiquei um tempo não sei quanto… pedi analgesia, pedi hospital, pedi pelo amor de Deus, desesperei, chorei, implorei… eu sentia uma pressão muito forte no sacro, nos ísquios… uma pressão que me dava medo (mas eu não sabia disso, a Iara me revelou!)…
A Iara falou para eu mesma me tocar e ver onde estava a Estela… não acreditei… quando toquei ela estava ALI! Coloquei meu dedo médio e no fundo senti sua cabecinha…. fiquei muito feliz e isso me deu mais energia!
Minha preocupação era ela estar sofrendo pois eu achava que não estava dando conta das contrações, mas as meninas faziam contorcionismo para conseguir auscultá-la durante a contração e me tranqüilizavam… aquele som do coraçãozinho dela me dava mais e mais energia…
Lembro de algumas cenas: eu gritando NÃÃÃÃÃO e todo mundo SIIIIIIM e eu NÃÃÃÃÃÃO mais alto e mais brava! Rsrsrsrs…
Lembro de ter ficado alguns instantes sozinha com o Fernando no banheiro e ele falou as palavras que mais me incentivaram a continuar… falou que a noite estaríamos todos juntos com ela no colo! Que ela nasceria linda, num dia lindo… foi um momento mágico onde parece que eu lembrei o porque daquilo tudo… Fer foi tudo de bom!
Enfim, chegou uma hora que eu perguntei da banheira porque era minha última esperança… e ela já estava cheia! Lá fui eu descer 20 degraus de escada para entrar na banheira que estava no andar debaixo… acho que essa descida ajudou um pouco a relaxar meu quadril… entrei na banheira! Ahhhhhhhhh! Delícia… as contrações continuavam fortes como antes, mas deram uma espaçada e eu pude relaxar bem entre uma e outra.
Tudo bem, meus gritos continuavam iguais (segundo relato da Iara) mas agora me deu mais coragem de fazer força pois não precisava de uma posição específica para alguém ver ou segurar o bebê… continuaria como em todo o trabalho de parto, eu comigo mesma e com a Estela… só nós duas trabalhando… sem TER QUE nada!
A Halana falava comigo, a Iara fazia uma massagem boa nas costas!
Eu tentava mas não conseguia fazer força, muita dor! Eu repetia isso, repetia… até que a Iara falou: “Vc tá com medo!” – me desafiou! “Não tô com medo, tô com dor!” “Não! Vc tá com medo!”…
E ela acertou na mosca… porque aí eu conversei comigo mesma e decidi que se eu havia chegado até ali eu iria até o final e não teria medo… e aí comecei e fazer força! Sentia cada osso se movendo, cada músculo, tudo… ela descendo… e saiu a cabecinha, passei a mão naquela cabecinha pequeninha e macia! Não falei nada, não conseguia. Só ouvi a Iara falando: “Gente, nasceu a cabecinha! “ e em homenagem a Joyce, que não estava presente, mas cantou a bola que pegaria a Estela sem luva no parto… foi lá a Iara e pegou ela!… sentia o corpinho dela, esperei a outra contração e ela veio! Foi uma emoção indescritível, inimaginável, uma sensação… … … não sei, só sei que estava com os olhos fechados e essa sensação me levou tão longe que assim fiquei por alguns segundos antes de ver a minha linda Estela!
Alguém me entregou ela no colo… que coisinha macia, linda, pequena! Cheia de vérnix… nasceu ás 13:25hrs…
Me lembrei imediatamente do Pedro… “liga pra eles, pra eles virem!”.
E minha mãe, Pedro e minha vó estavam aqui em 20 minutos!
Pedro encheu os olhos de lágrima quando viu a irmãzinha, fez carinho, me deu beijo… não saiu mais de perto!
No bolão ninguém acertou o peso: 2,960Kg e 46,5cm! Minha lindinha!
Nenhuma laceração! Cordão cortado pelo pai 1 hora e meia depois.
Agora sim eu sei oque é parir! Agora sim eu sei oque é se sentir vitoriosa! Agora sim eu fiquei dura na queda! Eu e a Estela tivemos uma sintonia única, do início ao fim… ela comandou tudo… é pequena mas é forte, decidida e como boa ariana, não gosta de enrolação, quando decidiu nascer resolveu que seria com tudo… ! Rsrs
Agora entendo perfeitamente a desconexão entre mãe e bebê causada pela analgesia. Agora sim eu entendo aquele hiato que ficou no parto do Pedro e que foi oque mais me causou medo no parto da Estela… o medo do desconhecido!
Eu pari o Pedro… que nasceu maior que a Estela… isso quer dizer que meu corpo tb sentiu oque eu senti agora com a Estela, mas eu não processei essa mensagem e pra minha alma isso ainda não tinha acontecido! Agora sim eu pari os dois… senti oque eu sentiria com o Pedro…
Se eu não estivesse em casa eu não teria parido a Estela…
Eu pari porque estava na minha casa, gritando (muito!) no meu banheiro e na sala da minha casa, com a participação especial do meu vizinho (com seu panelão de fazer cerveja!) e das minhas amigas queridas (que eu podia gritar e apertar o quanto eu quisesse *rs*). Com meu marido querido e companheiro que me falou as palavras certas na hora certa! Sem me sentir inibida, sem me sentir comandada, sem me sentir pressionada, abandonada, negligenciada… nada disso!
Foi tudo perfeito, desde a hora que eu acordei, da chegada da Manu, do abraço da Jaque, das risadas da Halana, das tentativas de conexão da Rox, da conversa de mãe pra mãe com a Iara, do sorriso da Tânia depois do nascimento, da chegada do Pedro com minha mãe querida, do Fernando me dando pedacinhos de manga depois do parto (fome do cão!)… desde o início até o fim! Foi tudo perfeito! Principalmente a Estela…
O nascimento da Estela começou com o nascimento do Pedro… Pedro me ensinou a acreditar no meu corpo, me ensinou a ser mãe… a Estela veio pra me levar ao limite do meu corpo me mostrar o quanto eu ainda tenho força dentro de mim, a capacidade infinita que tenho… e que cada mulher tem! Que ela certamente tem…
Agradeço a Deus pela oportunidade, pelo meu corpo perfeito, pelos meus filhos perfeitos e especiais, pelas pessoas que ele colocou no meu caminho, pelas formas pelas quais ele me revela as coisas, pelo aprendizado de vida… isso é que é vida!
Isso é que é vida!
Florianópolis, 13 de abril de 2011.